Rock'n'roll ou a Mecânica dos solos


erosão


Em passagem por uma das rotas alternativas de acesso entre os municípios paranaenses de Campo Magro e Ponta Grossa, nos deparamos com o recorte de um morro bem à margem da estrada. Tratava-se de uma considerável cratera, com paredão ao fundo, em cujo cume alguns pinus lutavam contra a gravidade. O tom ocre/pele contrastava com a hegemônica área de plantio comercial. Ali, havia ainda uma breve e abandonada estrada que imaginamos ter duplo propósito: o da extração e contenção de terra.

Trata-se de um lugar constituído pelo recorte e esvaziamento do espaço. As rochas, terra e argila dali retiradas são usadas para propiciar caminhos e gerar espaços de trânsito – processo implícito à construção de estradas. Ação negativa que dá origem a encontros. Transposição da paisagem como fluxo e constituição de laços, nós, redes.

O morro é potencialmente uma estrada, do mesmo modo que um poço de petróleo é potencialmente uma frota de carros, tratores e caminhões em movimento.

Experimentamos a dimensão de "estar" em deslocamento naquele espaço por meios diferentes: caminhando por e avistando a amplitude do lugar em relação ao outro. Tratamos da realidade material, dos símbolos e dos códigos das situações, imaginando que o encontro com o morro/estrada se dá:

1. Para aquele que caminha através do solo argiloso, considerando cheiros, umidade, temperatura, texturas, cores, esforço, equilíbrio, deslocamento, desvio...;
2. Para aquele que presencia – mas permanece à margem –, olha/fotografa e se detém no que caminha e por onde caminha, através de uma atitude especular;
3. Para aqueles que encontram índices da situação (você, agora, por exemplo);
4. Para o destruidor/criador do morro/estrada, que deixa sua obra.

mapa erosão itaiacoca



Sobre aquele que caminha: está no recorte. Sua pele e roupa diluem-se na paisagem, são quase camuflagem. Corpo/imagem com movimento determinado.

Sobre aquele que especula à margem: respira e observa. Tranca a respiração e fotografa. Repete a operação. Às vezes, aquilo que é se confunde com aquele que observa.

Sobre você:

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Sobre aquele que destruiu/criou: imaginamos que ele não nos imagina agora. Mas por seus atos as pedras rolam...

Sobre o rock and roll: transitamos habitualmente por construções, caminhos estabelecidos, códigos confirmados. Por exemplo: uma estrada; a beira de um lago artificial; uma cratera. Rochas se deslocam de um lugar a outro pela força da gravidade, auxiliadas pela erosão. Quase sempre, não temos controle sobre o seu deslocamento e, nesse traço – percurso entre o lugar original e a próxima parada – encontramos potencial criativo, além da possibilidade de estarmos em outro espaço/tempo que não dominamos.

* Texto publicado na Revista Tatuí Número 07

Claudia Washington e Lúcio de Araújo